
O polêmico voo dos deportados brasileiros em Manaus gerou comentários por parte do Ministro das Relações Exteriores, que afirmou em entrevista algo que não aconteceu.
Em entrevista coletiva para tratar do assunto, o chefe do Itamaraty, Mauro Vieira, foi questionado por um repórter sobre a demora do governo atual em tomar providências sobre a situação dos deportados, já que há anos o procedimento dos imigrantes ilegais voarem algemados é praticado pelos EUA.
O jornalista questionou: “Não foi a primeira vez que os voos de deportados dos EUA para o Brasil tiveram pessoas algemadas. Assim como o número de deportados do ano ado foi muito maior do que durante o governo Trump. Por que só agora o Brasil está dando atenção a esse fato? O que teve de diferente nesse voo?“.
Em resposta, Mauro Vieira afirmou que “Primeiro que houve um acidente com o avião, as más condições, péssimas, que nos levou a buscar as autoridades americanas, para encontrar justamente condições adequadas, porque nós não podemos itir que as pessoas venham com aquele tipo de tratamento, inclusive correndo riscos maiores, porque o avião poderia ter sofrido um acidente e problemas mais graves“.
Logo após a entrevista coletiva foi encerrada sem que a pergunta do repórter tivesse uma resposta. Da mesma forma, a afirmação vaga do ministro não esclareceu qual teria sido o “acidente” envolvendo a aeronave.
Repórter: Por que só agora o Brasil está dando atenção ao fato de os brasileiros estarem sendo transportados algemados? O que mudou?
— Ricardo Oliveira (@ricardors_of) January 29, 2025
Ministro Mauro Vieira: "O avião poderia ter sofrido acidentes e problemas mais graves” 🤡 pic.twitter.com/KYLyImTWqq
O fato é que que não ocorreu nenhum acidente, o que, segundo definição da própria ANAC, refere-se a algo grave: “é um acidente aeronáutico quando qualquer pessoa sofra lesão grave ou morra em decorrência de sua presença na aeronave, em contato direto com qualquer de suas partes, incluindo aquelas que dela tenham se desprendido, ou submetido à exposição direta do sopro de hélice, rotor ou escapamento de jato, ou às suas consequências. Exceção é feita quando as lesões resultarem de causas naturais, forem auto ou por terceiros infligidas, ou forem causadas a pessoas que embarcaram clandestinamente e se acomodaram em área que não as destinadas aos ageiros ou aos tripulantes“.
Outra situação para o termo acidente se dá quando “a aeronave sofra dano ou falha estrutural que afete adversamente a resistência estrutural, o seu desempenho ou as suas características de voo ou, ainda, se exigir a substituição de grandes componentes ou a realização de grandes reparos no componente afetado. Exceção é feita para falha ou danos limitados ao motor, carenagens, seus órios, hélices, pontas de asas, antenas, pneus, freios, ou pequenos amassamentos ou perfurações no revestimento da aeronave, ou a aeronave seja considerada desaparecida ou o local onde se encontra, seja absolutamente inível“.
No caso do voo da semana ada, a aeronave não sofreu dano estrutural, nenhum dos ocupantes sofreu lesão grave ou morte. Logo, a afirmação de que um acidente ocorreu com a aeronave é factualmente equivocada.
Até o momento não foi esclarecido o que causou a alegada falta de ar-condicionado da aeronave ainda em solo, o que não necessariamente é um acidente ou incidente, sendo algo rotineiro na aviação comercial, podendo ser amenizado pelo uso de fonte externa de refrigeração (ACU), que aparentemente não foi utilizada ou disponibilizada em Manaus.
Vale lembrar que a GlobalX faz voos de deportados para o Brasil já há alguns anos, e nenhum deles chegou a ter um problema parecido com o de Manaus, o que não a isenta a companhia, mas demonstra que a situação não é típica.
O uso errado do termo acidente por qualquer pessoa, ainda mais uma pública em cadeia nacional, prejudica a aviação, causando um medo e temor desnecessário para os usuários do transporte aéreo.