
A indústria aérea valoriza a inovação, mas enfrenta desafios significativos para empresas que adotam modelos não convencionais. Essa máxima parece se confirmar mais uma vez no caso da britânica Global Airlines, companhia que surgiu com a promessa de revolucionar o mercado com o Airbus A380. dc43
A companhia elevou expectativas ao anunciar planos ambiciosos para operar voos transatlânticos regulares exclusivamente com o Airbus A380. Porém, diante dos obstáculos, parece não ter outra opção a não ser revisar sua estratégia comercial. Fontes próximas ao caso, ouvidas pela Aviation Week, indicam que a Global Airlines pretende abandonar a operação sob sua própria marca e focar no mercado de leasing de aeronaves com tripulação, manutenção e seguro, o chamado wet lease ou ACMI.
A mudança ocorre após dois voos de demonstração realizados em maio de 2025 entre Reino Unido e Nova Iorque, conduzidos pela companhia portuguesa Hi Fly, sediada em Malta, por meio de um contrato ACMI, já que a Global ainda não possui o Certificado de Operador Aéreo (AOC). Os voos transportaram um número reduzido de ageiros, reforçando as dúvidas sobre a viabilidade do modelo inicial.
Paralelamente, há relatos de que a Kingdom Holding Company, importante grupo de investimentos da Arábia Saudita, está negociando a aquisição de uma participação significativa na Global Airlines. O aporte financeiro permitiria à empresa acelerar a compra de até quatro Airbus A380. Atualmente, a frota conta com apenas uma unidade do superjumbo, uma antiga aeronave da China Southern (registro 9H-GLOBL), que está em manutenção na Alemanha após os voos de demonstração.
Segundo o Aviacionline, a decisão de focar no nicho ACMI reflete a crescente demanda global por aeronaves de fuselagem larga para rotas de curta e média distância, uma necessidade impulsionada pelos atrasos na entrega de novos aviões pela Airbus e Boeing. Esse cenário cria espaço para operadores ACMI que possam oferecer capacidade adicional rapidamente.
A Global Airlines pretende se tornar a primeira operadora ACMI do mundo especializada exclusivamente no Airbus A380. No entanto, o desafio é grande. A Hi Fly, por exemplo, já operou um A380 em regime de wet lease entre 2018 e 2020. Naquele período, apesar do destaque no Farnborough Air Show, os altos custos operacionais do superjumbo e a baixa demanda frustraram o projeto, que também foi impactado pela pandemia.
Agora, a Global acredita que as condições do mercado são mais favoráveis, graças à escassez global de capacidade widebody. Contudo, diante do histórico da empresa e do ineditismo do modelo, o ceticismo persiste.
Fundada por James Asquith, a Global Airlines inicialmente apostou em uma experiência de voo luxuosa, com múltiplas classes no A380, buscando reviver a “era de ouro” da aviação nas rotas do Atlântico Norte, competindo com gigantes estabelecidos. Com a nova estratégia, o foco é transformar o Airbus A380 em uma solução para outras companhias aéreas que enfrentam falta temporária de aeronaves ou picos de demanda.
O sucesso dessa reestruturação e o investimento saudita serão decisivos para o futuro da Global Airlines e sua ambição de operar uma frota de superjumbos num mercado que, apesar das oportunidades geradas por gargalos na produção, apresenta desafios significativos para a operação da maior aeronave de ageiros do mundo.
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