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Dois especialistas analisam os dados divulgados do acidente aéreo em Washington 424j4o

CRJ-700 da American Eagle | Foto: DepositPhotos

O trágico acidente envolvendo um Bombardier CRJ da American Airlines e um helicóptero Black Hawk teve fatores relevantes analisados por dois especialistas. A colisão que ocorreu no final da noite de 29 de janeiro de 2025 e envolveu um jato regional CRJ-700 da PSA Airlines (operado para a American) e um Sikorsky VH-60M Black Hawk do Exército Americano, mais especificamente do 12th Aviation Battalion. 6e6c4a

Ao todo, 67 pessoas faleceram, sendo 64 a bordo do CRJ e três a bordo do Black Hawk. As aeronaves colidiram próximo ao Aeroporto Ronald Reagan, na capital Washington D.C.

Baseado nos dados de radar divulgados e no áudio da conversa entre os pilotos e o controlador, o Comandante Juan Browne “Blancolirio“, que voa jatos Boeing 777, e anteriormente era da Força Aérea Americana (USAF), tendo inclusive voado caças e sido parte do time de investigação militar de acidentes aéreos, detalhou alguns pontos sobre o ocorrido.

Blancolirio é conhecido pelas explicações técnicas e considerações em investigações aeronáuticas, tendo inclusive comentado fatores que foram colocados no relatório preliminar de um avião aeromédico que caiu nos EUA no ano ado, sendo bastante respeitado no setor por explicações simples, rápidas e sem especulações.

Ele nota que o CRJ estava liberado para pousar na cabeceira 01, mas, a pedido do controlador, pousou na cabeceira 33, e para isso fez uma curva à direita, saindo do leito do Rio Potomac e indo para as margens dele, mas em cima da cidade.

Com isso, pode ter acontecido dos pilotos de helicóptero confundirem a luz do jato com a iluminação da própria capital: “Outros pilotos de Black Hawk que já voaram exatamente nessa rota e viram exatamente esse cenário. O problema é ir frente a frente à noite, as luzes do CRJ tendem a se misturar com as luzes da cidade atrás de você, mesmo que o jato esteja um pouco acima do helicóptero. Outro problema ao voar de frente um para o outro é que, se não houver movimento lateral no para-brisa, essa luz é muito difícil de detectar. Eventualmente, o CRJ precisa fazer a curva à esquerda para pousar na pista 33, o que coloca o helicóptero no lado direito do avião“.

Também é notado que o controlador chega a informar de fato sobre o jato comercial, porém não detalha exatamente onde ele estaria, e o piloto do Black Hawk confirma que tem a aeronave em vista:

“O controlador de torre aqui no aeroporto pergunta ao helicóptero: “Você tem o CRJ à vista?”, ao que o helicóptero responde: “Sim, temos o CRJ à vista, solicitamos separação visual.” Isso transfere a responsabilidade da separação dessas duas aeronaves para o piloto do helicóptero. O ATC então pede ao piloto do VH-60 para ar atrás do jato, ao que o militar responde “afirmativo”, mas, em vez disso, ele acaba colidindo com o avião da American”, afirma Blancolirio.

O uso de óculos de visão noturna (NVG), mesmo que modernos, também limita o campo de visão do usuário, que pode ter contribuído para a colisão, e “afetado a sensação de campo de profundidade” segundo o Comandante. Outro ponto é o uso de NVGs durante a noite em locais de luminosidade mais alta, como cidades grandes, é prejudicado, já que o equipamento ressalta as luzes emitidas, exatamente por permitir enxergar durante a noite.

A rota seguida pelo Black Hawk previa altitude máxima de 200 pés (60m) acima do solo, mas segundo os dados preliminares de radar, o helicóptero estava a 300 pés (90m) de altura, mais alto que o permitido, enquanto o CRJ estava a 400 pés (120m) e descendo para pouso.

Outro piloto com grande experiência, o Comandante Steve, que também voa jatos Boeing 777 na mesma companhia aérea americana de “Blancolirio”, falou sobre o caso. Ele cresceu na região de Washington e se tornou aviador naval voando aeronaves Beechcraft T-44 Pegasus (King Air B90) e depois voou o Lockheed P-3 Orion (L-188 Electra modificado para caça a submarinos).

Em linha com o que seu colega de companhia comentou, Steve pensa que os pilotos do Black Hawk viram não o CRJ-700, mas sim um Airbus A319 (também da American Airlines) que era o próximo para pouso e estava vindo na direção deles pelo Rio Potomac, mas muito mais distante que o jato regional.

“Eu não acho que eles tinham esses caras à vista. Acho que eles tinham o avião atrás deles à vista. É por isso que isso é uma tragédia tão grande” afirma Steve ao acompanhar a reprodução do áudio do controlador de voo.

O espaço aéreo para o CRJ era o espaço que estava na frente deles, atrás deles e em ambos os lados deles. Era responsabilidade do helicóptero manter a separação visual. Eles até disseram a ele algumas vezes: “Você precisa ir para o lado.” Ele foi para o lado. Ele disse: “Sim, eu vou para o lado. Estou aceitando a responsabilidade pela separação.” E eu acho que, assim como quando você está dirigindo um carro e olha, e vê um carro atrás do que quase te bateu, você vê aquele carro e não vê o que está bem ali na frente. Quando você avança, às vezes há uma colisão. É realmente trágico quando isso acontece com um avião“, conclui o aviador.

Ambos os pilotos ressaltam que é necessário esperar a NTSB recolher mais dados e produzir o relatório preliminar antes de elaborar qualquer causa provável sobre o acidente. Este relatório está previsto para ser concluído e divulgado até 1º de março de 2025.