
Como amplamente repercutido desde o último final de semana, um acidente aéreo ocorreu no domingo ado, 18 de maio, no Rio de Janeiro (RJ), quando um avião de acrobacia atingiu o solo durante um show aéreo.
A apresentação acontecia na Base Aérea dos Afonsos, na zona oeste do Rio, durante um evento realizado no Museu Aeroespacial (MUSAL) da Força Aérea Brasileira (FAB), em celebração pelo Dia dos Museus. No comando da aeronave RV-8 estava o piloto Arnaldo Ferrari Carneiro.
Durante uma das manobras, o avião acabou voando baixo demais e colidiu com o solo, arrastando-se por vários metros pela grama adjacente à pista. Apesar do choque, o terreno ajudou a absorver o impacto, e o avião não explodiu nem pegou fogo (clique aqui ou no título ao final dessa matéria para assistir novamente ao vídeo mostrado no último domingo).
O comandante Ferrari foi prontamente assistido pela equipe de solo na saída da aeronave, porém, antes de seguir para o posto médico, ele foi até o público para agradecer pelo apoio e mostrar que estava bem.
Diante disso, na última quinta-feira, 22 de maio, o piloto decidiu publicar um texto para falar sobre o acidente, suas percepções e o que pensa sobre voltar ou não voltar às acrobacias. Confira integralmente a seguir o que ele disse.
“Hoje, ado o momento que vivi — o qual reputo como transitório e algo previsto para aqueles que ousam ir além, como os que buscaram sonhar e pertencem à querida turma 72/78 —, digo a vocês: já vivi momentos bem piores na minha jornada. Dediquei-me a voar nesses 50 anos, sempre superando desafios e colhendo ensinamentos, e desta vez não será diferente.
Tenho que decidir: saio agora com a sensação de que dei o melhor de mim ou continuo a sonhar? Sim, pois voar é um sonho. E, se assim for, preciso me sujeitar ao inevitável… Voar em evento aéreo é uma atividade de risco. O preparo, o planejamento e os treinos são intensos, mas não somos senhores da verdade — o obscuro sempre está de plantão.
Soma-se a isso o eterno “e se…?” Como lidar com o impensável? Retorno, então, buscando no processo a decisão que preciso tomar… Mas, antes, quero e preciso agradecer pelo que recebi de todos: palavras tranquilizadoras, orientações importantes, frases dignas de profundos conhecedores da arte de viver a vida — voando ou não.
Sou grato. Por incrível que pareça, saí do avião preocupado: para mim, não importava o avião, mas sim a responsabilidade do momento, o fato de que, do outro lado, havia organizadores, público, colegas que acreditaram em mim.
Assim, me desculpei pelo que não sei. Fui até o público, recusei ir de ambulância — eles não estavam lá para ver mazelas, mas para buscar conforto e alegria, referências melhores em um país desgovernado, de futuro sombrio…
Hoje decidi: se eu retornar, vai demorar um pouco. Se Deus — que está no comando — assim quiser, o farei no melhor estilo. Se assim não for, tomaremos café, contaremos histórias e, como item obrigatório de uma longa jornada, com bondade e sorrindo, em um universo de alegrias, vamos tratar de aceitar o inevitável: somos águas ageiras, cujo oceano em que vamos desaguar está próximo.
Obrigado a todos da turma 72/78, de coração. Devo confessar: saí com orgulho de vocês. Somos mais que família — somos uma torre de pedra cercada por oliveiras seculares, protegidas por aqueles que abruptamente nos deixaram tão cedo.”